Hugo Motta: aprendiz de feiticeiro no comando da Câmara
✍️ Gilvandro Oliveira Filho Jornalista
A ascensão de Hugo Motta à presidência da Câmara dos Deputados consolidou um novo capítulo na política brasileira, marcado por expectativas elevadas, movimentos ousados e, em determinados momentos, sinais claros de instabilidade política. Jovem, articulado e fruto de acordos complexos do centrão, Motta chegou ao posto máximo do Legislativo com o discurso da modernização e do diálogo, mas rapidamente se viu diante de desafios que exigem mais do que habilidade técnica: exigem maturidade política.
Em alguns episódios recentes, o presidente da Câmara demonstrou dificuldade em equilibrar interesses divergentes, oscilando entre a pressão do Executivo, as demandas da oposição e a força dos blocos parlamentares que o elegeram. Essa postura gerou ruídos internos e levantou questionamentos sobre sua capacidade de conduzir a Casa com firmeza e previsibilidade.
O apelido que começa a circular nos bastidores — “aprendiz de feiticeiro” — reflete justamente essa percepção: alguém que domina o discurso, mas que ainda testa os limites do próprio poder institucional. Em um Parlamento fragmentado, cada gesto do presidente da Câmara tem peso político nacional, e decisões mal calibradas podem ampliar crises em vez de solucioná-las.
Ainda assim, Hugo Motta tem a seu favor o tempo e a oportunidade de corrigir rotas. O cargo que ocupa exige mais escuta, mais coerência e, sobretudo, equilíbrio. O Brasil precisa de um Legislativo que funcione como pilar da democracia, não como fator adicional de instabilidade.
Artigo | Hugo Motta e o desafio de amadurecer no poder
A retrospectiva do início da gestão de Hugo Motta à frente da Câmara dos Deputados revela um presidente em construção. Sua trajetória até o comando do Legislativo foi rápida, impulsionada por alianças estratégicas e pela confiança de setores influentes do Congresso. No entanto, governar a Câmara é bem diferente de conquistá-la.
Em determinados momentos, Motta pareceu refém das circunstâncias, reagindo mais aos fatos do que conduzindo o processo político. Faltou, em algumas ocasiões, clareza nas posições, previsibilidade nas decisões e uma linha de condução capaz de transmitir segurança institucional ao país.
Não se trata de negar sua legitimidade ou capacidade intelectual, mas de reconhecer que o cargo exige algo além da articulação política: exige liderança serena, flexibilidade responsável e coerência entre discurso e prática. A Câmara dos Deputados não pode ser palco de improvisos, especialmente em um cenário nacional já marcado por tensões econômicas e sociais.
A expectativa agora é que Hugo Motta compreenda o tamanho da responsabilidade que carrega. O Brasil espera um presidente da Câmara mais equilibrado, mais aberto ao diálogo e menos suscetível a pressões momentâneas. A maturidade política não vem apenas com o tempo, mas com escolhas corretas.
O futuro de sua gestão ainda está em aberto. O aprendizado pode ser rápido — desde que haja humildade para ouvir, firmeza para decidir e compromisso com a estabilidade democrática.
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