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Jornalista Celia Ribeiro morre aos 96 anos

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Jornalista Celia Ribeiro morre aos 96 anos
Jornalista Celia Ribeiro morre aos 96 anos (Foto: Reprodução)

Decana do jornalismo e referência de elegância, boas maneiras e moda no Rio Grande do Sul, Celia Ribeiro morreu nesta quinta-feira (25) em Porto Alegre, aos 96 anos.

Avessa ao rótulo de oráculo de boas maneiras, Celia Ribeiro defendia que o bom senso era sempre o melhor conselheiro. Costumava dizer que, respeitada uma única regra — manter-se atento aos outros —, as maiores gafes poderiam ser evitadas.

Sua trajetória foi incomum para uma mulher nascida no ano de 1929 em uma família tradicional de Porto Alegre. Formou-se em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 1957, e chegou a flertar com os palcos nos tempos de faculdade.

A paixão pelo teatro, porém, a conduziria para outra carreira: o jornalismo. Iniciou a vida profissional aos 26 anos como crítica teatral do jornal A Hora— sendo uma das primeiras mulheres a atuar em uma redação jornalística no Estado.

Foi também no jornal A Hora que Célia conheceu o marido, o também jornalista e ex-diretor de redação de Zero Hora Lauro Schirmer (1928-2009). O casal não teve filhos.

Por quase duas décadas, Celia Ribeiro esteve no ar na televisão gaúcha. Em 1957, fez sua estreia produzindo o programa O Mundo da Mulher, na TV Piratini.

Já em 1964, foi convidada pela TV Gaúcha para comandar o Programa Celia Ribeiro. Oito anos depois, quando o Jornal do Almoço foi criado, tornou-se apresentadora do bloco de variedades da atração da RBS TV.

Trabalhou também no Segundo Caderno de Zero Hora de 1970 a 1992. Depois, foram mais 24 anos como colunista semanal na Revista Donna. Em 2016, ela anunciou aposentadoria.

Ao longo dos 60 anos ininterruptos de exercício da profissão, Celia soube como poucos adaptar-se às mudanças. Atuou em mídia impressa como repórter, editora e colunista. No rádio, fazia da produção à apresentação, assim como foi versátil na televisão. Quando a internet passou a dominar as relações de trabalho e pessoais, reinventou-se com mais de 70 anos, incluindo o título de blogueira na lista de realizações, sem resistência às novas tecnologias.

Em sua despedida de ZH, cercada de colegas da redação, Celia destacou seu amor à vida e o encanto pela profissão.

— Foi uma trajetória muito longa, mas só a chance que eu tive de exercer essa profissão que eu adoro e fazer o que eu gostava já foi muito bom. 

Uma mulher à frente de seu tempo

Em paralelo à carreira de jornalista, Celia escreveu livros sobre etiqueta, gastronomia, viagens e história.

A trajetória como escritora começou em 1991 com o best-seller Etiqueta na Prática, que seria seguido por outras sete publicações sobre o tema. Já o interesse pela gastronomia e pelas receitas de família inspiraram livros como Manual de Sobrevivência do Anfitrião Inexperiente (1995) e Receitas de Yayá Ribeiro (2002).

Nos seus dois últimos livros, debruçou-se sobre arquivos de documentos e fotografias antigas para contar parte da história da própria família. Fernando Gomes — Um Mestre no Século 19 narra a trajetória do bisavô, que deu nome a uma rua no bairro Moinhos de Vento. O Jornalista Farroupilha lembra as aventuras do trisavô, Vicente Ferreira Gomes.

A capacidade de transmitir suas ideias independentemente da plataforma ultrapassou as linguagens características de cada geração. Como mulher, também soube absorver as transformações com naturalidade.

— Em todos esses anos que eu vivi, o que mais mudou foi o preconceito. Até os anos 1940, tudo era feio, tudo era proibido, tudo era escondido. Hoje é muito mais fácil que se respeite a individualidade das pessoas. Foi um grande ganho — disse a ZH em 2016.

Celia também ressaltava o poder do afeto, sem o qual dizia não conseguir fazer nada. Ela também afirmava que a psicanálise foi fundamental em sua vida.

— Me trouxe muito autoconhecimento e me ajudou a entender como é importante se colocar no lugar dos outros. E isso, no fim das contas, é a essência da etiqueta e das boas maneiras: saber colocar-se no lugar dos outros. A análise, junto com o exercício do jornalismo, me ajudou a entender melhor as pessoas e a mim mesma — relatou na mesma entrevista.

Sobre a associação imediata com a elegância, cultivada pelo seu público, assumia exercitar constantemente a simplicidade e fuga de linguagens arrogantes e impositivas:

— Elegância é dar mais importância ao que cai bem do que aos ditames da moda. Infelizmente, muita gente acaba usando roupas ou acessórios que não favorecem para aparentar menos idade. Elegância é também ser educado, socialmente agradável, mesmo sendo tímido. Já a maior deselegância possível é a ostentação. Não existe nada mais deselegante do que ser deslumbrado.

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