Eleito presidente, Rodrigo Paz promete abrir a Bolívia para o mundo
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O senador de centro-direita Rodrigo Paz foi eleito presidente da Bolívia ao vencer o segundo turno das eleições realizadas no domingo (19), derrotando o conservador Jorge "Tuto" Quiroga. A informação foi divulgada pela Agência Brasil com base em dados oficiais do tribunal eleitoral boliviano e em reportagens da Reuters e Telesur. Paz obteve 54,5% dos votos, contra 45,5% de Quiroga, com 97% das urnas apuradas.
A vitória encerra quase duas décadas de domínio do Movimento ao Socialismo (MAS), fundado por Evo Morales, e consolida uma transição política em meio à pior crise econômica do país em anos. Embora eleito presidente, Paz não contará com maioria legislativa, o que o obrigará a formar alianças para governar. A posse está marcada para o dia 8 de novembro.
Discurso de vitória e promessas de abertura internacional
Em seu discurso após a confirmação dos resultados, em La Paz, Rodrigo Paz afirmou: "Precisamos abrir a Bolívia para o mundo", sinalizando uma mudança clara na política externa boliviana após anos de alinhamento com Rússia e China. Quiroga reconheceu rapidamente a derrota.
O novo presidente também prometeu equilíbrio entre responsabilidade fiscal e programas sociais, defendendo uma economia menos dependente do Estado. "Vamos tentar construir uma economia para o povo, na qual o Estado não seja o eixo central", declarou em entrevista à Reuters antes do pleito.
No fim de setembro, Paz revelou que negocia um acordo de cooperação econômica de US$ 1,5 bilhão com autoridades dos Estados Unidos para garantir o fornecimento de combustíveis, o que representa um realinhamento diplomático com Washington.
A eleição de Rodrigo Paz representa uma mudança significativa no cenário político boliviano. Desde 2006, o país foi governado majoritariamente pelo MAS, sustentado pela base indígena e por políticas de forte presença estatal na economia. A campanha de Paz adotou um discurso moderado, prometendo preservar conquistas sociais ao mesmo tempo em que defende estímulos ao setor privado e autonomia fiscal regional.
Jorge Quiroga, por outro lado, defendeu medidas de austeridade, cortes de gastos públicos e diálogo com o FMI. A proposta de Paz, mais gradualista, atraiu eleitores de esquerda insatisfeitos com o MAS, sem aderir integralmente à agenda neoliberal.
Trajetória marcada por herança política e controvérsias
Nascido em 1967, em Santiago de Compostela, na Espanha, enquanto sua família vivia no exílio, Rodrigo Paz é filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora (1989-1993), acusado de corrupção e de ligações com o tráfico, mas nunca condenado. Aos 12 anos, sobreviveu a um episódio traumático quando seu pai foi o único sobrevivente de um suposto ataque aéreo.
Sua carreira política inclui mandato como deputado desde 2002, atuação como vereador e prefeito de Tarija entre 2010 e 2020, período marcado por questionamentos sobre superfaturamento e falhas de gestão. Nos últimos cinco anos, foi senador pela aliança Comunidade Cidadã, liderada por Carlos Mesa.
Alianças, redes sociais e desafios sociais
O desempenho de Paz no primeiro turno foi impulsionado por seu vice, Edman Lara, ex-policial e figura popular nas redes sociais, especialmente no TikTok, onde denunciava casos de corrupção. Lara foi expulso da Polícia Nacional em 2024 após um processo disciplinar.
O novo governo enfrentará resistência de movimentos sociais e sindicais. A Central de Trabalhadores da Bolívia (COB), principal sindicato do país, alertou que reagirá a qualquer tentativa de reversão das conquistas trabalhistas e sociais. Organizações indígenas também indicam que iniciarão uma "nova etapa de resistência" para defender a soberania nacional.
Desafios econômicos e governabilidade em xeque
Sem maioria no Congresso, Rodrigo Paz terá de negociar com diversas forças políticas para aprovar reformas. A Bolívia enfrenta inflação crescente, queda nas reservas internacionais e escassez de combustíveis. A proposta de Paz inclui incentivos fiscais para pequenas empresas, atração de investimentos estrangeiros e descentralização de recursos para governos regionais.
Especialistas alertam que a governabilidade dependerá da capacidade do novo presidente de equilibrar pressões internas, demandas sociais e a necessidade de recuperação econômica.
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