O telhado de vidro que cobre o candidato Tarcísio
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O Estadão, mais abertamente que os demais jornalões e TVs, tenta moldar Tarcísio de Freitas aos seus valores conservadores para que surja, nele, o candidato ideal da direita não-bolsonarista. Como se sabe, o governador de São Paulo é de fato bolsonarista, mas carrega alto potencial de trairagem, conforme denunciam os próprios filhos do ex-presidente em vias de ir para a cadeia.
O diário do bairro do Limão publica editoriais duros contra Tarcísio, pois defensor da democracia e cônscio de que a condenação de Bolsonaro, pule de 10, não pode jamais ser revertida por um Congresso fanfarrão. O governador paulista foi a Brasília trabalhar pela anistia, o Estadão desceu-lhe o porrete, maldisfarçando a simpatia por sua candidatura à Presidência da República, mas condicionando-a ao seu distanciamento em relação ao bolsonarismo mais tosco.
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Ocorre que Tarcísio de Freitas possui um passivo administrativo, social e especialmente policial que supera seu bolsonarismo intrínseco como fator a afastar-lhe o eleitor, queira ou não o Estadão. É cedo para acusá-lo de envolvimento direto nos desvios bilionários de fiscais da Secretaria da Fazenda – dê-se tempo ao tempo. Porém, a lista de despautérios do seu governo é comprida.
Lembre-se de pronto do caso Sabesp, privatizada por R$ 67,00 a ação, quando o valor justo estimado era de R$ 103,30. Crateras reforçam a certeza do mau negócio. Como escrevemos há alguns dias neste espaço, uma cratera abriu-se e reabriu-se na Marginal Tietê, à altura da ponte Atílio Fontana. O motivo foi falta de manutenção nas tubulações. A empresa chegou a culpar os moradores por uso inadequado do sistema de esgoto, numa invejável atuação tira-votos do governador privatista.
A Freguesia do Ó também ganhou uma cratera para chamar de sua, devido a vazamento na rede de abastecimento de água. A Sabesp desculpou-se e interrompeu o fornecimento de água para obras de reparo, transferindo votos dos moradores locais para o adversário de Tarcísio nas próximas eleições.
Paralelamente, têm sido reportadas contaminações acima dos padrões em reservatórios, como na represa do Guarapiranga, expondo à saúde pública a riscos graves e afastando do governador os votos dos habitantes da região. Em julho último, a Sabesp foi multada por despejar esgoto na represa. O Ministério Público de São Paulo instaurou inquérito civil para investigar a responsabilidade da Sabesp não apenas pela contaminação das águas da represa do Guarapiranga, mas também da Billings.
O campo dos direitos humanos, de outra parte, é fértil em motivos para o eleitor paulista repudiar o governador Tarcísio e sua administração. Novamente recorremos, à guisa de luz à memória, a trechos já publicados por este jornalista.
O ano de 2024 acumulou 737 homicídios cometidos por PMs em São Paulo, em serviço ou de folga, representando aumento de 60,2% sobre 2023 e de 86% em comparação a 2022. Mais de 60% dessas mortes foram de pessoas negras. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o aumento da letalidade está ligado à política de segurança mais dura, obviamente, com diminuição de controles do uso da força. Em 2023, houve cortes de aproximadamente R$ 37,3 milhões no programa de câmeras corporais da PM e congelamento de verba para combate à violência contra mulheres.
As famigeradas Operações Escudo e Verão, na Baixada Santista, deixaram ao menos 84 mortos.
Para a imprensa que enaltece Tarcísio por suas “virtudes” de gestor – aquela lenga-lenga em torno de privatizações, austeridade etc. – e tenta descolá-lo de Jair Bolsonaro, pouco ou nada importa o que faz a polícia paulista pela cabeça do governador e pelas mãos do secretário se Segurança, Guilherme Derrite. Ambos foram denunciados ao Tribunal Penal Internacional, em abril de 2024, por crimes contra a humanidade em razão da escandalosa letalidade policial no Estado.
Tarcísio de Freitas, espera-se, um dia terá de responder também pela gentrificação que promove no centro da Capital, esta de mãos dadas com o prefeito Ricardo Nunes, num cenário em que sobressai a Favela do Moinho e a dispersão violenta da Cracolândia. Certamente, os paulistanos não-higienistas apresentar-lhe-ão a fatura no próximo pleito eleitoral.
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